Há quem goste de beber regularmente e há quem prefira reservar uma boa bebida apenas para os finais de semana ou ocasiões especiais. O fato é que degustar uma boa pinga é mais do que simplesmente virar o copo na boca.
A degustação é um momento prazeroso e que permite apreciar adequadamente a bebida e sentir todas as nuances e particularidades em sua produção. A cachaça é uma das bebidas mais queridas dos brasileiros e possui características bem determinadas.
É possível encontrar cachaça de diferentes sabores, preços e níveis de qualidade, mas uma boa bebida merece ser degustada apropriadamente.
O que é a pinga?
Primeiro é preciso saber o que é uma aguardente. A aguardente é simplesmente o destilado obtido a partir da fermentação do suco do caldo da cana de açúcar. A graduação alcóolica é alta, variando entre 38 e 54%.
A aguardente é um tipo mais amplo de produto, enquanto a cachaça é um tipo de aguardente com graduação levemente menor, entre 38 e 48%. Outro ponto que distingue as duas classificações é a quantidade de açúcar nas bebidas.
Assim, pode-se dizer que toda cachaça pode ser considerada uma aguardente, porém o contrário não é real. A pinga é o apelido dado a uma aguardente do tipo cachaça, assim como branquinha, agua que passarinho não bebe, etc.
Dicas para degustar uma cachaça de forma apropriada
Degustar uma cachaça apropriadamente requer uma série de cuidados e itens a serem observados:
1. Análise visual
O primeiro passo ao degustar uma cachaça como profissional é realizar a análise visual. Para isso, a recomendação é que a bebida seja servida em copos apropriados, com cerca de oitenta a cento e vinte ml, de preferência com hastes, para que as marcas dos dedos não interfiram.
Para a avaliação visual são observados fatores como cor, limpidez, lágrimas, viscosidade e rosário.
1. Observar as cores e transparência
A degustação deve ser feita em ambiente bem iluminado e recomenda-se utilizar um papel ou superfície branca contra o recipiente para facilitar a observação da tonalidade da bebida e da transparência.
A pinga que não é envelhecida em madeira é incolor, já as que passam pelo processo normalmente possuem tom mais amarelado/dourado. A cor depende da dimensão, tamanho, tempo de envelhecimento e da madeira do barril.
De maneira geral, quanto menor e mais novo, mais intensa tende a ser a cor final, já barris maiores necessitam de tempo de envelhecimento mais prolongado para que haja alteração na cor do produto.
A turbidez da bebida também deve ser analisada. Uma pinga de qualidade não deve ter a presença de materiais em suspensão, ela precisa ser límpida, sem partículas sólidas boiando no líquido.
2. Lagrimas e viscosidade
As lagrimas são as gotas de bebida que escorrem ao redor do copo ao girar a taça. É algo simples, mas que pode dizer muito a respeito da qualidade da bebida que está sendo servida.
Gotas que escorrem mais lentamente e que possuem maior viscosidade indicam destilação e envelhecimento realizados de forma adequada. Já gotas que deslizam muito rápido pode ser indicativo de processos indesejados na destilação ou mistura de água no produto.
Cachaças envelhecidas normalmente possuem maior viscosidade, já que o processo em madeira é normalmente uma fonte natural de glicerol. Alguns produtores aplicam glicerol a mistura para tentar agregar essas características de modo artificial.
Esse tipo de substância faz com que a bebida adquira um gosto caracteristicamente mais adocicado e pode ser facilmente detectado em análises químicas de laboratório.
3. Bolhas
As bolhas formadas na superfície do liquido ao ser servido é chamado de rosário e a persistência e tamanhos destas bolhas estão relacionadas ao teor de álcool presente na bebida. Um rosário mais intenso e persistente pode ser observado normalmente em cachaças com maior teor alcoólico.
4. Odor
O odor de uma cachaça de qualidade não deve ser apenas de álcool, pois devem estar presentes outros elementos que compõe a bebida, como frutas, madeiras, etc. Para realizar uma melhor análise olfativa o copo deve estar de quatro a cinco centímetros do nariz.
É desejável que haja poucas interferências odoríferas do ambiente, mãos ou perfumes corporais.
5. Paladar e sabor
Por fim, o momento tão esperado: hora de sentir o sabor da pinga. É recomendado que o degustador sempre tome água para limpar o paladar antes de experimentar uma cachaça diferente.
Para avaliar as características relativas ao sabor, deve-se ingerir pequenos goles, e fazer com que a bebida percorra diferentes cantos da boca, nada de virar toda a dose de uma vez, como normalmente se vê por ai.
6. Análise retro olfativa
Essa é uma etapa essencial na degustação de uma boa pinga, pois permite utilizar o conjunto boca, garganta e nariz para perceber novos sabores e nuances na bebida.
Para verificar este critério, é preciso inspirar profundamente, preenchendo parcialmente os pulmões com ar, colocar na boca uma pequena quantidade de cachaça e só então engolir, para depois expirar lentamente.
Isso permite analisar o conjunto de doçura, acidez, sabor alcoólico, etc. Uma boa cachaça mantém as boas características por dois segundos ou mais. Quanto mais prolongado, melhor.
7. Conclusão
Para a conclusão é preciso avaliar todo o conjunto: aparência, odor, sabor e o quanto a experiência foi agradável.
Uma boa pinga passa por muito processos para se chegar à mesa do consumidor e é influenciada por diversos fatores, como matéria prima, momento da colheita, armazenamento, processamento, higiene, cuidados na fermentação, tipo de barril utilizado, etc.
O Brasil possui inúmeros produtores de qualidade, com sabores e preços que cabem em todos os bolsos e para todo perfil de consumidor que busca esse tipo de produto.
Apreciar uma pinga de qualidade pode demandar maior investimento e cuidado, mas com certeza vale a pena, pois além do sabor e da experiência prazerosa é menos provável que haja uma ressaca monstruosa no dia seguinte!